Painel de Degustação: Vertical do mítico Vega Sicilia “Unico” 1987-2007!
- Luiz Cola
- 10/nov/2017
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Elaborado pela primeira vez há pouco mais de 100 anos (1915), o tinto espanhol Vega Sicilia “Unico” figura no panteão dos grandes vinhos do mundo. Oriundo da região da Ribera del Duero, ele é fruto de uma mescla feita majoritariamente (acima de 80%) com Tinto Fino, o nome regional da Tempranillo, e uma pequena parcela de Cabernet Sauvignon (associada às vezes com doses mínimas de Merlot e Malbec). Como curiosidade, até a casta branca Albillo já fez parte da composição desse vinho, como num inesquecível 1967 degustado anos atrás.

Atualmente, cerca de 140 hectares de vinhas são cultivadas para a elaboração do Vega Sicilia (e de seu irmão mais jovem, o Valbuena). Contendo exatas 2.222 plantas por hectare, cuja idade média gira em torno dos 35 anos, o rendimento obtido é bastante baixo para os padrões da região (entre 1 e 1,5 kilos por planta). Isso garante que a matéria-prima colhidas ali possua o alto nível de qualidade necessária para a elaboração desses vinhos.
Mas qualidade obtida pelo Vega Sicilia vai muito além das uvas de qualidade (ainda que isso seja essencial): ele passa por um longo processo de afinamento em barricas e tonéis de carvalho antes de seguir para as garrafas que pode ultrapassar uma década. Tudo começa com um estágio em tonéis de madeira usada por uma média de dois anos; outro período semelhante em barricas novas (francesas e americanas), mais um par de anos em barricas usadas e outro tanto em tonéis usadas de grande capacidade. Após esse longo caminho percorrido, o Vega Sicilia encontra seu destino final nas garrafas, onde costuma afinar por mais uns três anos antes de ser posto à venda.

Mas nada melhor do que a prática de degustar para conferir a realidade por trás desse longo e cuidadoso processo de elaboração do Vega Sicilia Unico. Reunimos para uma degustação vertical, seis safras cobrindo um intervalo de 20 anos (1987-2007), que se encontram agora com uma evolução de 10 a 30 anos, mais que suficientes para nos oferecer uma visão nítida de suas qualidades. Seguem minhas impressões sobre cda uma das safras degustadas:
1987 – Blend com 80% de Tinto Fino, 10% de Cabernet Sauvignon, 10% de Merlot e Malbec. Perfeitamente evoluído, com aromas complexos e bastante intensos. Taninos polidos e marcantes. com acidez finíssima e um ótimo peso no paladar. O mais gastronômico do painel, escoltando divinamente um Cabrito à Portuguesa. Esplêndido!
1996 – Blend com 90% de Tinto Fino e 10% de Cabernet Sauvignon. Talvez tenha sido o mais austero deles, numa fase meio “adolescente”, mas deixou transparecer seu grande potencial. Taninos firmes, acidez nas alturas e um corpo bem estruturado e equilibrado. Certamente o mais propenso para uma longa guarda, cuja paciência será recompensada em 10 ou 15 anos.
1998 – Blend com 92% de Tinto Fino e 8% de Cabernet Sauvignon. Intenso em todos os quesitos: fruta madura, taninos vigorosos e concentrados, com um corpo bem volumoso no paladar. Não por acaso foi o mais bem avaliado pela Wine Advocate (98 pontos). Pode ser que o tempo ajuste esses “excessos”, mas já foi o suficiente para me deixar ressabiado…
1999 – Blend com 90% de Tinto Fino e 10% de Cabernet Sauvignon. Sendo o mais delicado e acessível do painel, esse 1999 parece ter passado meio desapercebido pelos demais degustadores, mas a meu ver ofereceu um contraste interessante com seu antecessor. Enquanto o 1998 exibia potência de sobra, o 1999 mostrou que a elegância pode oferecer resultados ainda mais compensadores. Excelente vinho para beber agora ou guardar por mais uns 20 anos.
2004 – Blend com 87% de Tinto Fino e 13% de Cabernet Sauvignon. Essa safra ofereceu qualidade máxima na Ribera del Duero, resultando num Vega Sicilia relativamente similar ao 1998. Apesar de um pouco mais jovem, ele apresenta uma diferença importante: um maior equilíbrio entre seus elementos, obtendo um resultado mais harmônico e promissor. Uma grande aposta para o futuro!
2007 – Blend com 90% de Tinto Fino e 10% de Cabernet Sauvignon. O 2007 ficou em nítida desvantagem no painel, seja pela precocidade de seus 10 anos, seja por seu estilo um pouco mais “magro” que seus antecessores. Pode ser que o tempo faça sua mágica e o guie na direção do elegante 1999, mas não tenho muita certeza que ele será capaz disso. Tomara que eu esteja enganado e o possa encontrar no futuro em melhor forma.
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